Análises: Lula recupera espaço do país na política externa, mas patina sobre Ucrânia

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O presidente Luiz Inácio Lula da Silva completa seis meses de mandato neste sábado (1º) com a marca de visitas a 12 países. Uma agenda que, na avaliação de especialistas ouvidos pelo g1, buscou retomar a tradição da política externa de diálogo com diferentes países e organismos, a fim de recolocar o Brasil nas principais discussões do cenário internacional.

Nestes primeiros seis meses de mandato, Lula visitou:

Argentina

Uruguai

Estados Unidos

China

Emirados Árabes

Portugal

Espanha

Reino Unido

Japão

Itália

Vaticano

França

Lula foi recebido, por exemplo, pelos presidentes Joe Biden (Estados Unidos), Xi Jinping (China) e Emmanuel Macron (França) e pelos primeiros-ministros Rishi Sunak (Reino Unido) e Fumio Kishida (Japão). Abordou nas viagens uma série de temas, entre os quais, a redução da desigualdade, o combate à extrema-direita e o financiamento de ações de preservação ambiental.

Eventuais ganhos financeiros poderão vir ao longo do mandato, mas dependem de estabilidade política, segurança jurídica e perspectiva de crescimento econômico.

“O governo anterior tinha a defesa do Brasil ser um pária. O Brasil sempre teve uma posição de multilateralismo. É um gesto político importante recuperar o papel do Brasil nesta agenda internacional”, afirma Pereira.

O efeito da posição pôde ser visto nos convites que levaram Lula à cúpula que discutiu um pacto financeiro, na França, e à reunião do G7, no Japão. O Brasil ficou 14 anos sem participar do encontro do bloco formado por Alemanha, Canadá, EUA, França, Itália, Japão e Reino Unido, além da União Europeia.

“Lula restabeleceu o relacionamento ativo, construtivo e positivo com parceiros estratégicos. O Brasil tem cinco parceiros verdadeiramente estratégicos: Argentina, EUA, Alemanha e França, e China”, avalia o diplomata aposentado Roberto Abdenur, ex-embaixador nos EUA e China.

Política ambiental

 

Entre os pontos que o governo se reposicionou está a política ambiental. Em reuniões com autoridades, discursos e entrevistas, Lula reforçou o compromisso de zerar o desmatamento até 2030 na Amazônia e cobrou de nações mais ricas recursos para preservar as florestas de países em desenvolvimento.

O Fundo Amazônia, que custeia ações de combate ao desmate, foi reativado com o anúncio da intenção de investimentos de EUA, Reino Unido e União Europeia, além de Noruega e Alemanha, países que já financiavam o fundo.

O Brasil também conseguiu fazer de Belém (PA) a sede, em 2025, da cúpula das Nações Unidas (ONU) que discute mudanças climáticas (COP).

Mercosul-União Europeia

 

Lula fez três viagens à Europa, com seis países visitados, no semestre antes de assumir a presidência rotativa do Mercosul (Brasil, Argentina, Uruguai e Paraguai). A prioridade do presidente é destravar o acordo comercial com a União Europeia, que precisa ser ratificado pelos países dos blocos.

A União Europeia apresentou uma carta adicional ao Mercosul com novas exigências na área ambiental. Lula chamou a posição de “ameaça” e disse que os europeus também não cumprem metas do Acordo de Paris para preservação ambiental. O petista planeja vencer esse imbróglio até o fim do ano, antes de deixar o comando do Mercosul.

Pesquisador do Ipea, Renato Baumann avalia que “faz todo o sentido negociar olho no olho” com as autoridades europeias para “manifestar o desconforto com as duas pedras no sapato do acordo”.

O embaixador Roberto Abdenur também considera a posição correta. “Essa carta prevê sanções – e sanções duras – contra o Brasil no caso de descumprimento de nossos objetivos climáticos ou outras infrações na área ambiental e climática. Acho que isso é excessivo”, afirmou o diplomata.

Guerra na Ucrânia

 

Os especialistas ouvidos pelo g1 apontam que há excesso de empenho por parte do governo em ganhar protagonismo em áreas que podem não trazer ganhos à política externa brasileira, como é o caso da guerra na Ucrânia, um dos temas preferencias de Lula nas viagens internacionais.

“O que Lula está fazendo é absolutamente inócuo, ninguém apoiou esse clube da paz, exceto algumas palavras de China e Rússia, porque quando você tem um agressor, o dever de todos os estados membros é vir em socorro e apoio a parte agredida”, afirma Paulo Roberto de Almeida, diplomata e ex-diretor do Instituto de Pesquisa de Relações Internacionais.

O Brasil condenou a invasão russa, porém Lula foi criticado por declarar que Rússia e Ucrânia não tomam “iniciativa de parar” e que Europa e EUA contribuem para continuidade da guerra. Essa posição ajudou a esfriar a relação com a Casa Branca, que começou em fevereiro com encontro entre Lula e Biden.

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